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22 de fevereiro de 2022Doenças como a leptospirose e desmoronamentos estão diretamente associadas ao impacto gerado por alagamentos e desequilíbrio ambiental. Especialistas propõem reflexão sobre políticas públicas preventivas
Após período de seca e alta temperatura no final do ano passado, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) divulgou dados confirmando um acumulado de chuva no Estado de São Paulo que superou a média histórica registrada no período de 1981 a 2010. Segundo a entidade, em apenas cinco dias a quantidade de chuva atingiu praticamente todo o volume que era previsto para o mês. E já foi emitido aviso meteorológico apontando perigo potencial devido a chuvas intensas previstas para os próximos dias.
Com o aumento na incidência de grandes volumes de água e seu respectivo impacto como enchentes, alagamentos e deslizamentos de terra, a presidente da Comissão de Saúde Pública Veterinária do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), Adriana Lopes Vieira, aponta os aspectos de médio e longo prazo que também comprometem a qualidade de vida das vítimas em contato com água contaminada, lama e lixo.
“Quando se considera a Saúde Única e o Bem-estar Único, a qualidade da água é imprescindível para a vida, a saúde e o bem-estar dos seres humanos e outras espécies animais. A poluição dos recursos hídricos ou sua escassez afetam o equilíbrio dos ecossistemas, além de causarem impactos sociais e econômicos”, ressalta.
Com especialização em Saúde Pública e em Administração de Serviços de Saúde, a médica-veterinária mestre em Epidemiologia Aplicada às Zoonoses lembra que as doenças de veiculação hídrica podem ser causadas por diversos micro-organismos, como bactérias, fungos, vírus, protozoários e helmintos, presentes em água contaminada.
“A Leptospirose, transmitida por roedores, é um exemplo comum de doença sistêmica aguda que pode acometer o homem e os animais, sendo causada por bactéria do gênero Leptospira. O quadro clínico varia desde infecção assintomática até quadros graves que levam o paciente ao óbito”, afirma Adriana.
Prevenção
A presidente da Comissão de Saúde Pública do CRMV-SP explica que a leptospirose ocorre durante o ano todo, porém sua maior incidência se dá nos meses de verão, devido às chuvas, enchentes e, consequentemente, ao contato humano com urina de roedores contaminada com a bactéria. “Quanto à prevenção, além da vacinação dos animais, são indicadas medidas como obras de saneamento básico, além de melhorias nas habitações humanas e o controle de roedores.”
Nos casos de iminência de contaminação, a médica-veterinária lembra que é importante evitar o contato com água ou lama de enchentes e impedir que crianças nadem ou brinquem nessas águas. “Pessoas que trabalhem na limpeza da lama, entulhos e desentupimento de esgoto devem usar botas e luvas de borracha, ou sacos plásticos duplos amarrados nas mãos e nos pés”, ressalta.
Além do controle de roedores, Adriana ressalta, ainda, que é preciso evitar que os animais domésticos tenham contato com água ou lama provenientes das enchentes, assim como com a urina de roedores e orienta tutores a seguir orientações do profissional médico-veterinário, não apenas quando surgirem os sintomas, mas após o contato com a água e dejetos dos alagamentos.
Vigilância epidemiológica e ambiental
Para a presidente da Comissão de Saúde Ambiental do CRMV-SP, Elma Polegato, existe uma relação entre a degradação das áreas que deveriam ser preservadas e as consequências provocadas pelo desiquilíbrio no ecossistema. “Os assentamentos humanos, desmatamento, queimadas, caça predatória, obras de infraestrutura, poluição dos recursos naturais, dentre outras atividades antrópicas e nem sempre planejadas favorecem o aparecimento de novas doenças e a alteração do comportamento epidemiológico de antigas.”
Quando existe o desiquilíbrio entre hospedeiro, ambiente e agente causador de doenças agravado por fatores naturais como grandes volumes de chuva e temperaturas elevadas, por exemplo, Elma pondera que “são produzidas condições ideais para a disseminação de patógenos como malária, dengue, febre amarela, leishmanioses, febre maculosa, raiva, hantavirose, gripe aviária, H1N1 e leptospirose, todas conhecidas como zoonoses”.
Durante as últimas duas décadas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 75% das doenças consideradas emergentes que acometem os seres humanos são transmitidas dos animais.
Confira dicas do que fazer em casos de enchentes
– Evite o contato direto com a água e a lama;
– Se a casa for inundada pela enchente, espere a água baixar, remova a lama e desinfete o local, sempre usando luvas, botas de borracha ou outro tipo de proteção para braços e pernas, como sacos plásticos duplos;
– Descarte os alimentos e medicamentos que tiveram contato com a água de enchente;
– Não deixe crianças e cães brincarem ou nadarem em locais com água e lama de enchentes ou outros pontos que possam estar contaminados pela urina de roedores;
– Se a caixa d’água foi atingida por lama, descarte a água e faça a desinfecção do reservatório;
– Não pesque em rios e lagoas após as chuvas;
– Pessoas que trabalham na limpeza da lama, retirada de entulhos e desentupimento de esgotos devem sempre usar botas e luvas de borracha ou outro material de proteção.
Como prevenir a leptospirose
– Acondicione o lixo em sacos plásticos ou em recipientes bem fechados, armazenando-o em local alto até que seja coletado;
– Guarde sempre os alimentos em recipientes bem fechados e em locais elevados do solo;
– Mantenha a cozinha limpa, sem restos de alimentos;
– Retire as sobras de alimentos ou ração de animais domésticos antes do anoitecer, mantendo sempre o vasilhame limpo;
– Mantenha quintais, ruas, terrenos e as margens dos córregos limpos e capinados;
– Evite acumular nos quintais e terrenos entulho e objetos como telhas, madeiras e material de construção, para não servirem de abrigo aos roedores;
– Feche buracos e vãos nas paredes e rodapés;
– Mantenha as caixas d’água limpas e tampadas e trate a água de poços antes da utilização.
Saiba mais e veja versão completa em CRMV-SP.